sexta-feira, 27 de abril de 2012

Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina, Sê um arbusto no vale, mas sê O melhor arbusto à margem do regato. Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore. Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva E dá alegria a algum caminho. Se não puderes ser uma estrada, Sê apenas uma senda, Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela. Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso… Mas sê o melhor no que quer que sejas. Pablo Neruda Esse poema de Neruda é um convite aos meandros da individuação. Não importa de que tamanho, ou de qual a grandeza seja, a arte e o desafio é sermos. Sermos quem realmente somos é uma tarefa que exige muita coragem e empenho nos tempos atuais. Não que em qualquer período da nossa humanidade consciente tenha sido fácil, mas na atualidade temos mais desafios e obstáculos para vencermos do que em gerações anteriores. Nossos antepassados davam mais tempo para a criança brincar, tinham mais tempo para os almoços em família, menos estímulos para o consumismo, menos preocupação com a eficiência e a produtividade. Não estou, aqui, afirmando que em tempos anteriores as pessoas vivessem num mar de rosas. É claro que não! Apenas me parece que hoje a cultura moderna faz com que não vejamos o tempo passar, pois estamos tão ocupados com o ganhar dinheiro para poder gastar mais, que não temos como prioridade o viver. A competição aniquila as relações, o rush banaliza as situações delicadas que se apresentam no dia a dia. Não temos tempo para os nossos filhos e não lhes damos tempo para viverem a infância, já que não podem perder tempo brincando, pois tem que aprender inglês, francês, espanhol e alemão, tem que se exercitar, tem que, tem que… Afinal, o mundo é competitivo e quem não tiver competência não se estabelecerá! São tantas as exigências que fazemos conosco e com os outros que nem nos damos conta de que essas exigências podem não ser as nossas metas, mas uma exigência do coletivo que nos arrasta pela vida a fora. E, se é tão difícil nos darmos conta das escolhas que estamos fazendo, como prestarmos a atenção em quem realmente somos? Não é muito comum nos questionarmos se as escolhas que fazemos são escolhas nossas, ou se esse é o caminho que todos tomam sem questionar. É muito corriqueiro, por exemplo, quando um casal, que já está namorando há mais tempo, ser indagado sobre quando vai casar e, logo que casa, quando irá “encomendar” o bebê e, quando tem o primeiro filho, quando vem o irmãozinho. Não é esse o curso esperado para a vida? Mas, e se esse casal não quiser casar e nem ter filhos? Provavelmente ficarão inquietos e com a sensação de que talvez essas não sejam as melhores escolhas. Como abrir mão das expectativas do coletivo e ficar tranquilo? Arriscando! Inquietando-se, mas arriscando! Não sem conflito, nem sem dor, mas com coragem de ser. Ser único, ser bizarro, ser alegre, ser triste, ser afoito, ser devagar, ser o que se é. Individuação não é iluminação, mas inteireza. Ser quem se é, é estar inteiro. É poder arriscar e se experimentar. É ir se construindo e se refazendo através da experiência adquirida com a vida. É poder discordar, é poder voltar atrás, é poder brigar e se reconciliar. É ter a coragem de receber a crítica e até de não ser gostado, mas “bancar” a escolha porque a sua escolha lhe parece a que faz mais sentido. Jung disse que “Todos nós nascemos originais e morremos cópias”. Nascemos únicos e nos fragmentamos no decorrer da vida pela necessidade de aceitação que carregamos dentro de nós. Somos, ou nos tornamos, carentes. Provavelmente a carência ocupou o espaço que ficou vazio com nossa ausência. A fragmentação causada pela educação afastou o indivíduo de sua essência e ele passou a buscar, nos outros, uma confirmação de seu valor. Falso caminho! Uma vez ouvi uma frase que guardo na memória até hoje: “quem não sabe para onde quer ir, sempre achará alguém que sabe para onde o quer levar”. Esse é o perigo de colocarmos a referência nos outros para as escolhas que fazemos. Nascemos sós, vivemos nossos dilemas e inquietações a sós e nossas escolhas nos levarão por um caminho compartilhado, mas que o resultado será responsabilidade apenas nossa. Apesar de ser mais fácil e confortável culparmos as pessoas com quem convivemos pelas nossas frustrações, elas são frutos de nossas escolhas. Assim, Ser exige-nos todo o empenho, coragem e responsabilidade. A vida de cada um de nós estará plena ou ausente de sentido de acordo com a autoria que lhe for dada. Para Jung “A personalidade quer desenvolver-se a partir de suas condições inconscientes, e sentir-se viver enquanto totalidade, mas há profundamente enraizada no homem, uma resistência a tudo o que lhe permitiria saber mais sobre si próprio”. A individuação vai exigir que possamos transpor as resistências internas e externas para, enfim, nos aproximarmos de ser quem somos! “Uma pessoa não se torna iluminada imaginando figuras de luz, mas transformando a escuridão em consciência”. Jung

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